É incrível como as ideias mais brilhantes nascem de momentos simples e banais, momentos os quais a maioria das pessoas nem ligaria ou não despreenderia esforços para pôr em prática.
Vejam como nasceu a ideia do Sítio do Picapau Amarelo na cabeça de Monteiro Lobato:
Certa tarde, na Editora, joga xadrez com Toledo Malta, quando, no intervalo entre dois lances, este lhe conta a história de um peixinho que por haver passado algum tempo fora d’água ‘desaprendera de nadar’, e de volta ao rio afogara-se. ‘Perdi a partida de xadrez naquele dia, talvez menos pela perícia do jogo do Malta do que por causa do peixinho. O tal peixinho pusera-se a nadar em minha imaginação; e quando Malta saiu, fui para a mesa e escrevi a ‘História do Peixinho que Morreu Afogado’ – coisa curta. Do tamanho do peixinho. Publiquei isso logo depois, não sei onde. Depois veio-me a ideia de dar maior desenvolvimento à história, e ao fazê-lo acudiram-me cenas da roça, onde eu havia passado minha meninice’. Lembrou-se então da mulata Joaquina, com quem ia pescar lambaris no ribeirão. Da primeira entrada na floresta, em companhia do pai. Das brincadeiras com as irmãzinhas. Das histórias contadas por Evaristo. As cenas foram surgindo à tona da memória, e quando deu acordo de si, redigia as primeiras linhas da famosa história:
‘Naquela casinha branca, lá muito longe, mora Dona Benta de Oliveira, uma velha de mais de sessenta anos’.
CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. Tomo II. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956, p. 154.
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