Engraçado como hoje em dia está acabando a tradição das festas de casamentos. Muitos casam e resolvem não fazer festa alguma, seja por falta de dinheiro ou porque desejam investir em outra coisa, como uma viagem ou algo para a casa, com a desculpa de que a festa é só para encher a barriga de um povo faminto e que vai reclamar de tudo depois.
Mas o que quase ninguém mais sabe ou lembra é o porque que existem essas festas e toda a tradição envolvida.
Vou usar como exemplo a história dos casamentos no Brasil, porque festas de casamento são uma tradição bem antiga na história do homem e nem daria para contar tudo aqui.
No inicio da formação de pequenas vilas e cidades no Brasil, entre os séculos 16 e 17, a informação viajava muito devagar, mais precisamente nos lombos de burros e cavalos. Não haviam estradas, haviam apenas caminhos abertos por mateiros e que permitiam as viagens. As vilas foram sendo abertas ao longo desses caminhos, próximos a rios e lugares próprios para cultivo de gêneros alimentícios ou criação de animais. Elas se estendiam entre o nordeste e sudeste brasileiro.
Estou falando isso porque imaginem alguém que deixou a vida em algum lugar do nordeste e foi desbravar e montar uma vida nova pelas bandas do sudeste, como na vila onde hoje é a cidade de São Paulo. Pois bem, imaginem quando ocorria de alguém casar nessa família, como avisar os parentes?
Casamento era algo que devia ser planejado com pelo menos um ano de antecedência, porque só para avisar familiares e amigos eram uns três meses de viagem e depois para essas famílias se arrumarem e irem para o casamento eram outros três, sem contar a volta, mais uns três meses (claro, isso para aqueles que estavam mais longe, em um casamento todos deveriam ser lembrados).
Então as famílias dos noivos preparavam tudo para receber essas pessoas, deixavam quartos preparados, criavam vacas, porcos e galinhas para a alimentação e arrumavam todos os detalhes para o casamento e a festa.
Os convidados tinham que preparar a comida para a viagem e costumavam levar animais como porcos e gado para presentear os noivos. A viagem era muito dura, dependendo da época do ano sofriam com chuva, frio ou calor, sem contar acidentes no percurso. Nem todos podiam ir, crianças e doentes ficavam, bem como mulheres grávidas.
Por esse motivo a festa de casamento não era apenas uma festa qualquer, era o modo dos noivos e suas famílias agradecerem aos seus convidados por toda essa dificuldade que passariam para chegar até ali. E eram nessas festas que muitos acordos de trabalho, econômicos, políticos e familiares eram feitos. Sempre se aproveitavam essas festas para arrumarem maridos e esposas para os filhos solteiros e já assim deixar marcado os próximos casamentos.
Por isso a festa era um evento que durava no mínimo uma semana. Quem morava mais perto acabava voltando mais cedo, mas os que moravam muito longe ficavam muitos dias até voltar. E as famílias dos noivos também ajudavam com a alimentação da volta.
Com o passar dos anos, os meios de transporte e comunicação foram melhorando e as festas foram ficando menores e em menos dias. No século 20, até a década de 90 mais ou menos, o costume era o casamento durar um dia, com os seguintes eventos:
- Café da manhã com os noivos, cada um em sua casa;
- Almoço oferecido pelos noivos para os convidados, principalmente os que vieram de fora;
- O casamento propriamente dito;
- Festa de casamento.
Resumindo, a tradição diz que a festa de casamento é o presente que os noivos retribuem aos convidados pela presença, presentes, carinho, atenção e bençãos recebidas por essas pessoas que fazem parte da vida do casal e são importantes para eles, que são a família e os amigos.
Mas hoje em dia ninguém nem pensa mais nisso, a festa é a hora de encher a barriga e só. E os padrinhos então? Estes são escolhidos mais pela conta bancária do que propriamente possuir vínculos com os noivos.
Mas também, se os noivos tivessem “amigos” de verdade em suas vidas esse seria realmente um momento muito especial.
Como sabem, sou muito apegado a tradições e comigo é assim, se vai ter festa, então os noivos merecem um bom presente. Se não, um voto de felicidade já tá de bom tamanho. Se a pessoa trata de qualquer jeito um momento especial de sua vida, então o casamento certamente vai ser levado de qualquer jeito e isso pra mim é um absurdo, porque acaba levando a brigas, discussões, separação e dor. Ou mesmo que não haja separação, vira uma relação fria e sem vida.
Casamento é um momento de amor. Mesmo que os noivos estejam sem dinheiro sempre é possível fazer algo aconchegante e feliz, desde que com amigos e familiares que amem os noivos e desejam o melhor para eles.
Símbolos e tradições são importantes para nossas vidas. Sem eles tudo fica sem graça. Ao menos é o que penso.
PS: aprendi muito sobre a história dos casamentos no Brasil pela minissérie A casa das sete mulheres. Lá eles mostram um casamento e todas as dificuldades envolvidas naquela época. Vale a pena assistir se você não viu. Essa minissérie está disponível em DVD.
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