quinta-feira, 6 de outubro de 2011



Em minha infância eu era uma criança muito quieta e calada. Se alguém tentava falar comigo, me encolhia ou me escondia. Vivia literalmente agarrado à saia da minha mãe, mais precisamente nas suas pernas, sempre que alguém mexia comigo. Lembro de uma vez em que voltava para casa com minha mãe e vários carroceiros brincaram comigo, eu sentia tanta vergonha que levantei o vestido da minha mãe para me esconder debaixo dela, deixando-a completamente constrangida.

Conversei com minha mãe agora mesmo e ela lembrou que era muito difícil saber se eu estava doente. "Você era um menino muito quieto, calado, era preciso adivinhar o que você tinha, se você tinha. Tentava uma coisa, remédio, chá, mas era dificil ter certeza do que você tinha e se estava melhor. Eu tive que aprender a te endender. Quando entrou para a escola as coisas pioraram, era mais difícil ainda. A professora falava, você falava muito pouco, e quando falava não dava para entender o que era. Lembro que pra saber que você tinha problema nas vistas foram meses até descobrir".

Lembro que na minha infância eu estava sempre no hospital ou pronto-socorro, era muito doente naquela época. Mas agora com isso que a minha mãe disse, entendi que muitas vezes ela me levava achando que eu estava doente e na verdade eu não deveria estar. E por causa disso minha irmã na época brigava comigo dizendo que eu fingia que estava doente, e quanto mais ela brigava, mais medo eu tinha de dizer que passava mal, com medo de acharem ruim ter que me levar novamente ao hospital.

Lembrei disso depois de uma conversa que tive com uma amiga essa semana, eu ainda sou um pouco assim, não com doença, mas com meus sentimentos. Eu me fecho em meu mundo, e nunca digo o que quero dizer. Em alguns casos ainda sou como era na infância, em outros não.

Mas não reclamo disso, é uma coisa que tenho consciencia e tento melhorar aos poucos, e tenho conseguido. De 2009 para cá melhorei muito, aos poucos vou conseguindo me expressar melhor. Mas acho que é isso que desperta essa minha vocação artística, meu dom de escrever e me expressar pela arte. Eu posso não conseguir falar muita coisa, mas consigo escrever de alguma forma. Se o mundo vai entender eu não sei, mas eu fico feliz.

Essa é minha natureza. E gosto de mim dessa maneira...

2 comentários:

Sheila disse...

Fui uma criança boazinha, tímida, mas que passou bem por essa fase e te entendo porque sou fechada, por mais extrovertida que pareça ser. Poucas pessoas têm acesso aos meus sentimentos, menos pessoas ainda podem ver irrestritamente o que se passa dentro de mim.

Não me sinto mudando com o tempo e na verdade, não me importo de ser assim.

Adoro te ler.

Beijo.

Soraya Carvalho disse...

fui muito parecida com você.
Até a irmã que crê até hj que estou fingindo doença eu tenho. :p
muito bom você ter voltado!